Uma das falhas de redação mais comuns é, sem dúvida alguma, aquela referente ao uso dos sinais de pontuação, particularmente o da vírgula. Isso, por si só, já justifica a importância desta unidade. Serão estudados os seguintes sinais: a vírgula, o ponto-e-vírgula, os dois-pontos, as reticências e as aspas.
VÍRGULA
O estudo desse importantíssimo sinal de pontuação será dividido em duas partes: vírgula dentro da oração e vírgula entre as orações.
Vírgula dentro da oração
Usa-se a vírgula:
a) Para separar elementos coordenados assindéticos. Exemplo: Compraram carne, batata, arroz e maionese.
b) Para isolar termos intercalados e/ou deslocados na oração. Exemplo: Acontecerá, na próxima sexta-feira, a maior feira de automóveis do país.
Observação: adjuntos adverbiais curtos, quando intercalados, só são isolados pela pontuação quando o objetivo do autor é enfatizar tal circunstância. Exemplo:
Ela se encontrou ontem com o irmão. (sem ênfase)
Ela se encontrou, ontem, com o irmão. (com ênfase)
c) Para isolar o aposto explicativo. Exemplo: Carlos, o mecânico, já chegou.
d) Para isolar o vocativo. Exemplo: Carlos, sua encomenda chegou!
e) Para isolar o predicativo adjacente ao termo a que confere um atributo. Exemplo: Jonas, irritado, pegou o carro e acelerou.
f) Para isolar expressões retificativas e explicativas, como ou melhor, aliás, ou seja, isto é, etc. Exemplo: Os meninos, ou melhor, as meninas mereceram uma repreensão naquele dia.
g) Antes das locuções adversativas e sim, e não e mas sim. Exemplo: Ele comprou um DVD, e não um CD.
h) Para indicar a elipse do verbo. Exemplo: Um pediu perdão; outro, dinheiro.
Observação: não se usa vírgula entre o sujeito e o predicado e entre núcleos e seus complementos. Exemplos:
Um desses países, tem feito ótimos acordos com o Brasil. (a vírgula está inadequada, pois separa o sujeito do predicado)
Um desses países tem feito, ótimos acordos com o Brasil. (a vírgula está inadequada, pois separa a locução verbal de seu complemento)
Vírgula entre as orações
Vejam-se agora os principais casos em que se usa a vírgula no período composto.
1) Orações subordinadas substantivas
Geralmente não são separadas por vírgula.
2) Orações subordinadas adjetivas
Só as explicativas são isoladas por vírgulas. Exemplo:
O restaurante da minha tia, que fica ali na esquina, tem ótimos preços.
3) Orações subordinadas adverbiais
Na ordem direta, são precedidas de vírgula somente quando houver pausa. Exemplos:
Só me tranqüilizarei quando você chegar. (sem pausa)
Ela aparentava uma tranqüilidade inabalável, apesar de ter brigado com a mãe. (com pausa)
Na ordem indireta (oração adverbial antes da principal), em regra usa-se a vírgula. Exemplos:
Se chover, não sairei.
Já que ela não o valoriza, procure outra namorada.
4) Orações coordenadas assindéticas
Sempre são separadas por sinal de pontuação. Pode-se usar a vírgula, o ponto-e-vírgula ou o ponto final, dependendo da intensidade da pausa que se queira criar entre elas. Exemplos:
A chuva começou, os animais se guardaram. (pausa menor)
A chuva começou; os animais se guardaram. (pausa intermediária)
A chuva começou. Os animais se guardaram. (pausa maior)
5) Orações coordenadas sindéticas aditivas
Em regra, não se usa a vírgula. Exemplo:
Pegue as suas coisas e suma daqui!
Exceções:
a) A conjunção “e” tem valor adversativo: Este computador é de última geração, e ainda assim me deixa nervoso.
b) A conjunção “e” introduz oração de sujeito diferente do da anterior: Os filhos divertiam-se no canto do salão, e os pais os vigiavam.
c) A oração da esquerda é extensa: As máquinas desse tipo exigem mão-de-obra de profissionais com altíssimo nível de capacitação técnica, e custam mais caro do que você imagina.
d) A conjunção é repetida: "E zumbia, e voava, e voava, e zumbia". (Machado de Assis, Poesias Completas, p. 314)
6) Orações coordenadas sindéticas alternativas
Em regra, não são separadas por vírgula. Exemplo:
O atendente não me ouviu ou fingiu que não me ouviu.
Exceções:
a) Oração da esquerda extensa: Aquela pessoa de que lhe falei passará os próximos cinco anos preparando-se para as competições, ou resolverá parar tudo e estudar.
b) Conjunção repetida: Ou fica, ou vai.
7) Orações coordenadas sindéticas explicativas
Em regra, usa-se vírgula antes de conjunções explicativas. Exemplo:
Pense melhor, que sua decisão é muito importante.
8) Orações coordenadas sindéticas adversativas e conclusivas
a) Em regra, usa-se uma vírgula antes de tais conjunções. Exemplo:
Carlos traiu a namorada, porém ela ainda o ama.
Carlos traiu a namorada, portanto ela o deixará.
b) Se, porém, entre as orações houver pausa maior, a vírgula virá antes da conjunção:
Carlos traiu a namorada; porém, ela ainda o ama.
Carlos traiu a namorada; portanto, ela o deixará.
Observação: depois da conjunção “mas”, geralmente não se usa a vírgula.
c) Se a conjunção adversativa ou conclusiva aparecer em posição não-inicial da oração, virá, preferencialmente, entre vírgulas:
Carlos traiu a namorada; ela, porém, ainda o ama.
Carlos traiu a namorada; ela, portanto, o deixará.
PONTO-E-VÍRGULA
O ponto-e-vírgula representa uma pausa maior que a da vírgula e menor que a do ponto. É usado principalmente para:
a) marcar pausa intermediária entre orações coordenadas assindéticas. Exemplo: Os meninos queriam chamar atenção; ninguém os viu.
b) separar, da anterior, a oração com elipse do verbo. Exemplo: Ele quer amor; ela, dinheiro.
c) separar, da anterior, a oração com conjunção intercalada. Exemplo: Ele quer amor; ela, porém, só precisa de dinheiro.
d) separar orações mais ou menos extensas, principalmente as que já contêm vírgulas. Exemplo: Eles queriam, acima de tudo, entregar o prêmio a quem o merecia; mas, em vez disso, só conseguiram ser humilhados pelos outros funcionários.
e) separar elementos de enumerações, principalmente quando extensos: Há três tipos de comida: as gostosas, que geralmente fazem mal à saúde; as de gosto ruim, que quase sempre fazem bem; e as insípidas, piores que estas últimas.
DOIS-PONTOS
Os dois-pontos são usados principalmente para:
a) introduzir aposto explicativo: Só quero um presente: você.
b) introduzir enumeração: Tenho duas coisas para falar: fique quieta e abrace-me.
c) introduzir discurso direto: Jonas disse: “Ajudem-me!”.
RETICÊNCIAS
Podem indicar:
a) suspensão do raciocínio: O pai é um gênio. Já o filho...
b) supressa de trechos: Segundo o autor, “... o país só sofrerá”.
c) hesitação da personagem: “É... veja bem... é melhor sairmos”.
d) aumento da emoção: “As palavras únicas de Teresa, em resposta àquela carta, significativa da turvação do infeliz, foram estas: ‘Morrerei, Simão, morrerei. Perdoa tu ao meu destino... Perdi-te... Bem sabes que sorte eu queria dar-te... e morro, porque não posso, nem poderei jamais resgatar-te’”. (Camilo Castelo Branco)
ASPAS
Principais aplicações:
a) metáforas: Ele estava uma “pilha”.
b) discurso direto: O padre perguntou: “É isso mesmo que você quer?”.
c) estrangeirismos pouco comuns: Você deve cobrar “royalties”.
d) neologismos: A América Latina passará por uma “chavezação”?
e) gírias e expressões populares: Ela achou “maneiro” o convite.
f) marcação da isenção do autor: A intenção do ditador era aniquilar as raças “inferiores”.
g) ironia: Está “linda” a sua filha.
CURIOSIDADE
Afinal, deve-se usar vírgula antes da abreviatura “etc.”? Alguns autores dizem que não, uma vez que a forma “et”, da expressão “et coetera”, é uma conjunção aditiva, motivo pelo qual a vírgula deveria ser dispensada. Outros, como Celso Luft, alegam que o falante não tem consciência de que a referida expressão é composta pelo elemento aditivo e, por isso, tende a encará-la como assindética, o que justifica a vírgula. Em suma, como não há consenso, pode-se considerar facultativo o sinal de pontuação nesse caso. |